Adaptação de partida elétrica em um motor de aeromodelo.

A pedido de um colega daqui de Campo Grande, fiz uma adaptação de um sistema de partida elétrica, originalmente projetado para um motor a gasolina, no motor YS 120 4 tempos que ele possui.

Estou colocando as imagens aqui para servir de inspiração caso alguém se defronte com uma situação parecida. A publicação dessas imagens foi autorizada pelo dono do motor, é claro.

Para efeito de comparação, a lapiseira que aparece nas fotos é uma 0.5 mm.

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Para não ter problemas com folgas, interferência entre partes e etc, comecei modelando com precisão todas as peças do sistema em CAD 3D, e a partir desse modelo pude projetar as partes que seriam necessárias.

Adaptadores

Optei pelo bronze nas duas peças que substituiriam o encosto original da hélice e o cone de aperto, pois o bronze, apesar de MUITO mais caro que o aço, permite uma usinagem mais fácil e, no meu caso, mais precisa.

Explico: para cortar confiavelmente e com bom acabamento superficial uma peça de aço, é necessária uma profundidade mínima de corte em cada passada, coisa que o bronze não exige, permitindo assim passadas finíssimas de acabamento para obter uma precisão da ordem de 0.15 mm em relação às dimensões do projeto.

Cheguei ao ponto de fazer pausas no trabalho na fase de acabamento para que as peças esfriassem e evitar erros dimensionais por conta da dilatação térmica.

Optei também por substituir o sistema de cone de aperto por um sistema de fixação por chaveta, aproveitando o rasgo já existente no eixo, pois caso tentasse manter o sistema de cone a peça resultante teria paredes finas demais e poderia não suportar os esforços e principalmente a vibração do motor.

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Infelizmente não me lembrei de documentar o início da usinagem, mas imagens de gente torneando peças existem aos montes na internet…

Definidos os detalhes, iniciei usinando as duas partes do novo encosto da hélice, já com rasgos de chaveta tanto para o acoplamento ao eixo do motor quanto à engrenagem com o rolamento one-way.

Uma das dificuldades nesse tipo de trabalho é que quando se inverte a peça no torno para finalizar a face que falta, é preciso extremo cuidado para manter a concentricidade e o paralelismo de faces.

Esse ajuste é feito usando um relógio comparador ou um relógio apalpador, para assegurar concentricidade e paralelismo melhores que 0.05 mm.

Usar as pinças de fixação da fresadora no lugar da placa normal do torno também ajuda, e muito, a manter a concentricidade nesses casos.

Quando comprei as máquinas, tive o cuidado de verificar que a medida do Cone Morse do cabeçote do torno era a mesma do spindle da Fresadora, e assim posso usar as pinças em ambas as máquinas.

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Prontas as peças do encosto da hélice, usinei o anel adaptador para permitir a montagem da base do sistema de partida no “pescoço” do YS 120. Esse anel foi feito em alumínio mesmo, e recebeu uma rosca M4 para permitir o aperto e fixação ao corpo do motor. Sugeri ao proprietário que usasse um travador químico em ambos os lados desse adaptador para garantir que o peso do motor de partida não desloque o conjunto com a vibração.

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Para evitar interferência mecânica entre a engrenagem e o anel adaptador, fresei um rebaixo na borda do anel. Também torneei a cabeça de um parafuso M4 grau de dureza 8.8, para que ela pudesse entrar sem raspar na cavidade destinada ao parafuso.

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 A preparação das chavetas foi feita a partir de um pedaço barra chata de aço com a espessura adequada, ajustei o comprimento e cortei “fatias” usando a fresadora, para obter as dimensões mais próximas possível das desejadas, deixando pouco material a ser retirado na ajustagem (feita na lima…).

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A seguir, o sistema foi montado para uma verificação final.

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A face de assento da hélice foi torneada de forma “grosseira” (com avanço e penetração elevados) intencionalmente, para gerar uma superfície rugosa e assim garantir a fixação confiável da hélice.

Após a montagem, foram verificadas as folgas para assegurar que não haveria problemas de interferência mecânica entre as partes.

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Finalmente, o motor elétrico de partida foi colocado em seu lugar, e o sistema foi entregue ao seu feliz proprietário.

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Agora é instalar no aeromodelo e decolar !